Porque me disseste que vinhas
Eu não dormi
Vesti a melhor roupa anos inteiros
Evitei as cebolas e os
Parapeitos.
Tive sempre os cabelos molhados
A boca molhada
As mãos molhadas
O coração úmido.
Pois me disseste que vinhas
Não havia mais data ou calendário
Deixei uma vida de sobreaviso
Em cada tarde eu ouvia a tua voz
Os passos na escada
Eram os teus passos maduros
Sorrisos ermos eram tua boca
Em outras bocas que não amo.
Porque eu sabia que vinhas
Então refiz as barras das calças
Colei flores às samambaias
Lavei com força as camisas brancas
E os chinelos
E o rosto
e as calçadas.
E cada dia que não chegavas
Adormecia em mim um silêncio
Que marcava as estradas e os desertos
E cada ano que não chegaste
Resultou uma soma de tempo
Inútil e vazio
Cheio de outro tempo que é meu
Meu e de mais ninguém.
(Samarone Lima)
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