terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Vem sem receio: eu te recebo
Como um dom dos deuses do deserto
Que decretaram minha trégua e permitiram
Que o mel de teus olhos me invadisse.

Quero que o meu amor te faça livre,
Que meus dedos não te prendam
Mas contornem teu raro perfil
Como lábios tocam um anel sagrado.

Quero que o meu amor te seja enfeite
E conforto, porto de partida para a fundação
Do teu reino, em que a sombra
Seja abrigo e ilha.

Quero que o meu amor te seja leve
Como se dançasse numa praia uma menina.

(Lia Luft)
Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui para adiante vai ser diferente
......Para você,
Desejo o sonho realizado.
O amor esperado.
A esperança renovada.
Para você,
Desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.
Para você neste novo ano,
Desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
Que sua família esteja mais unida,
Que sua vida seja mais bem vivida.
Gostaria de lhe desejar tantas coisas.
Mas nada seria suficiente...
Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto,
ao rumo da sua FELICIDADE!!!
(Carlos Drummond de Andrade)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

A minha história assim é escrita...
Contudo, há muito de ti nas entrelinhas,
e muito pouco de mim em suas linhas,
porque, o que eu fui, há tempos morreu.
Apresento-te, agora, a parte que sobreviveu.
Repara bem: este não sou eu.
Apenas, e tão somente,
este é um sobrevivente
do amor que ainda não morreu.

(Carlos Alberto Baltazar)

A lagartixa de três pernas, por Seu Pedro


Há semanas que a venho encontrando nas paredes da copa, caminhando como se nada tivesse acontecido. E, com três patas, vai seguindo a rotina de pegar mosquitinhos que, inadvertidos, pousam naqueles azulejos. Nos primeiros dias aquela lagartixa, também conhecida por ‘biba’, quando de minha aproximação, corria e, certamente, pensava: “Aquele gigante quer me pegar”. Não sei onde perdeu o seu membro superior esquerdo pois, quando comecei a observá-la, já tinha a amputação. Tenho certeza de que não foi em um acidente de moto. Que eu saiba, pequenos animais não pilotam e nem pegam carona com motoqueiros.
Como não me preocupo com a sua presença, pois até me livra dos minúsculos voadores, já me aproximo sem que ela corra tanto. Certa feita li que as lagartixas são propensas a acidentes cardiovasculares, ou seja, a doenças do coração. Falei isto a um sobrinho e ele saiu batendo o pé, perseguindo uma delas, que no piso liso, podendo pouco correr, foi arroxeando, até parar morta de susto. Espero que os leitores não queiram fazer o teste, deixando essas espécies de “faxineiras” limpando nossas casas dos insetos.
Chovia intensamente e o frio aumentou naquela noite e eu, como rotina de um diabético, fui à copa, por volta de três horas da manhã. Não vi nas paredes a minha amiguinha cotó e meus olhares a procuravam por todas as paredes. Entristeci-me e estranhamente me invadiu a ansiedade de vê-la, parecendo que se a visse abraçaria e dar-lhe-ia um beijo, o que nunca havia feito. A tempestade, e a copa também, foram iluminadas por um relâmpago. O ambiente iluminado, além da claridade de uma lâmpada de vinte volts que mantenho acesa naquele ambiente, me possibilitou vê-la aquecida atrás da geladeira.
Mesmo com o estrondo e minha presença foi como se nada houvesse. Não sendo tão minúsculo, creio que ouviria o bater de seu coração, compassado e sem sustos e veria seus olhos arregalados, mas transmitindo também alegria por me ver. Gratificou-me a noite, permitindo que eu me sentisse como Francisco de Assis, que além de ser protetor dos animais, se revelou como o mais paciente dos cristãos que seriam canonizados: esperou quatrocentos anos após sua excomunhão para o reconhecem como santo. E ainda espera mais quatrocentos para que os homens sigam seus conselhos:
“Deixem que os animais cumpram suas missões no ciclo da vida”.
Não nos cabe amputá-los ou limitar suas existências.
(Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia)

domingo, 28 de dezembro de 2008

lá fora chove
e nada do que digo
é o que queria dizer:
estou imóvel
e tenho a pressa de uma presa sem saída
ante o felino
eternamente a preparar
o bote sem desejo
– e a agonia poreja das paredes

asas coladas
voltamos ao casulo
viscosos seres
unidos no tormento
de um antigo momento que não volta

além dessas janelas
a vida comemora seus enigmas
quatro estações e luas
e o vento vibra
por suas ruas e praças

em curva infiltração
apodrecemos
violetas
o caule a desfazer-se

(Violetas - Adelaide Amorim)

Olhar você e não saber
Que você é a pessoa mais linda do mundo
Eu queria alguém lá no fundo do coração
Ganhar você e não querer
É porque eu não quero que nada aconteça
(deve ser porque eu não ando bem da cabeça)
Ou eu já cansei de acreditar…
Mas o meu medo é uma coisa assim:
Que corre por fora, entra e volta sem sair
Oh, não! Não tente me fazer feliz
Eu sei que o amor é bom demais
Mas dói demais sentir
Sentir você e não querer
É porque eu não quero que nada aconteça
(deve ser porque eu não ando bem da cabeça)
Ou eu já cansei de acreditar…
Ou eu já dancei…
Mas o meu medo é uma coisa assim:
Que corre por fora, entra e volta sem sair
Oh, não! Não tente me fazer feliz
Eu sei que o amor é bom demais
Mas dói demais sentir
Mas dói demais sentir
Mas dói demais
Sentir…

(Marina Lima)
Dá-me de volta a infância.
Quero de novo
o gosto que o algodão doce
costumava ter...
a sensação da
primeira roda-gigante,
ser empurrado
num balanço,
o beijo na testa
de boa noite.
Quero fazer rimas fáceis,
recitar versos tolos,
trava-línguas...
Quero cantar velhas cantigas de roda,
correr e rir
enquanto gritam meu nome.

Dá-me de volta a infância.
Quero o desassossego
de um amor platônico,
corações rabiscados
nas margens dos cadernos,
Nomes gravados nas árvores,
faces coradas
só de pensar em ser descoberto.
Quero chorar e rir
ao mesmo tempo
sem ter de me explicar.
Quero perdoar sem lembrança.
Confiar sem reservas.
Acreditar cegamente.

Dá-me de volta a infância...
O que mudou..
O que foi esquecido...
O que não consigo ser mais.

O que se perde
quando se cresce
é o que passamos a vida toda
tentando reencontrar.

(Luciano Maia)






































































































































































sábado, 27 de dezembro de 2008


Na dança dos dias
meus dedos bailaram...
Na dança dos dias
meus dedos contaram contaram,
bailando cantigas sombrias...
Na dança dos dias meus dedos cansaram...
Na dança dos meses
meus olhos choraram
Na dança dos meses
meus olhos secaram
secaram, chorando por ti,
quantas vezes!
Na dança dos meses
meus olhos cansaram...
Na dança do tempo,
quem não se cansou?!
Oh! dança dos dias oh!
dança dos meses oh!
dança do tempo no tempo voando...
Dizei-me, dizei-me,
até quando? até quando?

Anoitece no tempo
mas os sonhos permanecem:
azuis,
silenciosos,
necessários.
E a cada respirar dos
relógios,
lembro de emoções
que não podem ser apagadas,
fortes companhias
para não esquecer
do frasco de estrelas
que mora dentro de nós.

(Wilmar José Matter)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Não tente me enganar
Vejo em seu olhar que já não existe
Aquele mesmo amor que nunca esperou
Acabar tão triste.

Não tente me dizer palavras que eu
Já não acredito
Eu posso compreender o que restou de um amor
Que foi tão bonito.

Eu fiz daquele amor o meu sonho maior
Minha razão de tudo
Foi pouco o que restou
De tanto que existiu
Recordações e nada mais.

Não, não vá me dizer palavras que venham
Me fazer chorar depois
Eu sei que vou viver
Por muito tempo ainda
Das lembranças de nós dois.

(Roberto Carlos/Erasmo Carlos)