O amor é procurar cabelos para completar as mãos.
É procurar o que não se viveu para contar.
É esperar o sol aquecer o lado ileso da cama.
É não apagar direito a ausência, a letra, o cheiro.
É insistir com respostas sem as perguntas.
Adiar o amor ainda é cumpri-lo.
Fingir que não se sente é exercê-lo.
O amor devora os sobreviventes.
Não lembra do pente, da navalha, da tesoura de unhas, do jornal, do abajur.
O amor não lembra do que precisa.
Amor é não precisar de nada.
É precisar do que acontece depois do nada, ainda que não aconteça.
O amor confunde para se chegar ao mistério.
Embaralha para não se ouvir.
Perde-se no próprio amor a capacidade de amar.
Amor é comer a fruta do chão.
O chão da fruta.
O amor queima os papéis, os compromissos, os telefones onde havia nomes.
O amor não se demora em versos, se demora no assobio do que poderia ser um verso.
O amor é uma amizade que não foi compreendida, uma lealdade que foi quebrada.
O amor é um desencontro por dentro.
(Carpinejar)
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