domingo, 16 de janeiro de 2011


Do que eu diria ao passado já se apagaram os pormenores.
E talvez nada tenha a dizer.
Até porque algumas palavras já se tornaram
só um borrado indecifrável, como pensamentos articulados
pateticamente numa carta antiga que alguma coisa molhou
e o tempo se encarregou de secar.

Houve um tempo em que até diria
(ao passado)

que ele não se deu conta de coisas importantes.
Não cuidou de lealdades, de trocas justas.
Escolheu facilidades, superficialidades,
emoções fúteis e disponibilidades.
Não valorizou dedicações
e fez pouco caso de sentimentos e sinceridades.
Até diria que seu engano maior foi menosprezar razões,
subestimar inteligências
e acreditar demais em si e no que julgou perenidade.Mas corre o tempo e tudo muda.
E há dias aos quais não se deseja voltar.

O que tenho a dizer (ao presente)

é tudo o que agora importa.

Já era hora de ser assim.
Já era hora de sorrisos e mãos dadas.
De falar sobre a maciez das coisas.
De ver claro e de frente, sem a luz ferir os olhos.
De caminhar suavemente pelas emoções,
sem raivas e sustos,
sem ironias escondidas em cantos escurecidos.

De fazer planos e esperanças,
de partilhar confianças e verdades.

Já era hora de percorrer (o futuro)

como um caminho largo de amor e vida.
E de abraçar as felicidades que me fazem virar as costas,
tranquila e silenciosamente, àquela sombra que deixei pra trás.

Ao presente, dou certezas.
Ao futuro, mãos estendidas.
E ao passado, indiferenças e silêncios.
[Que é onde cabe tudo o que não precisa ser dito].

(Helena Chiarello)

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