sábado, 22 de agosto de 2009


Lágrimas abatem-se nas minhas vidraças…
Lágrimas de um céu cinzento.
Mesmo que alguns raios luminosos teimem em
trespassar a escuridão.
Tudo é irrelevante e o inverno chora...
Um grito molhado pelo que não choramos.
Chora por cada um de nós, como se fosse uma catarse.
Se um dia pudesse conversar com o inverno perguntar-lhe-ia
porque se dá ao trabalho de chorar por nós.
Um dia a primavera surgirá com a renovação prometida sem
que nos apercebamos.
A natureza renova-se sem nos pedir permissão, sem nós.
E será com o calor do verão que chegará uma leve sensação
de equívoco.
Não que nos apercebamos dessa sensação.
Apenas a humidade latente que nos enleia - a par de uma
lassidão que não nos abandonará até que o calor abdique -
é como o “tic tac” silencioso mas inexorável de um relógio.
E é então que começa o cair da folha.
E de novo o circuito se encerrará até o inverno se imiscuir
por nós adentro, chorando.

(Raquel Vasconcelos)

Nenhum comentário: