Pedir que não anoiteçam meus
olhos seria loucura; sei de
milhares de pessoas que veem e
que não são particularmente
felizes, justas ou sábias. O
processo do tempo é uma trama
de efeitos e causas, de sorte que
pedir qualquer mercê, por ínfima
que seja, é pedir que se rompa
um elo dessa trama de ferro, é
pedir que já se tenha rompido.
Ninguém merece tal milagre. Não
posso suplicar que meus erros me
sejam perdoados; o perdão é um
ato alheio e só eu posso salvar-me.
O perdão purifica o ofendido,
não o ofensor, a quem quase não afeta.
A liberdade de meu arbítrio
é talvez ilusória, mas posso dar
ou sonhar que dou. Posso dar a
coragem, que não tenho; posso
dar a esperança, que não está
em mim; posso ensinar a vontade
de aprender o que pouco sei ou entrevejo.
(Jorge Luis Borges)
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