segunda-feira, 16 de março de 2009


Quando você se foi pela primeira vez,
Deixou em mim
Uma tempestade nos olhos.
Perdida,
Procurei te esquecer,
Esqueci.

Quando você se foi pela segunda vez,
Deixou em mim,
Lágrimas ainda
Mas uma dúvida do fim.
Eu que já era outra,
Sobrevivi.

Quando você se foi pela terceira vez,
Deixou em mim
A certeza enfim,
Fiz confusão,
E, de tristeza,
Morri.

Você continuou a ir
E agora?
Esqueço.
Sobrevivo.
Morro.
Hoje, deixo que meu amor morra em palavras,
Como em todo fim,
Palavras que escrevo para você,
Para mim!

"Você vai me abandonar e eu nada posso fazer para impedir. Você é
meu único laço, cordão umbilical, ponte entre o aqui de dentro e o lá
de fora. Te vejo perdendo-se todos os dias entre essas coisas vivas
onde não estou. Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não
estar no que você vê. E tanto tempo terá passado, depois, que tudo
se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma
importância. Serei apenas memória, alívio, enquanto agora sou uma
planta carnívora exigindo a cada dia uma gota de sangue para
manter-se viva. Você rasga devagar o seu pulso com as unhas para
que eu possa beber. Mas um dia será demasiado esforço, excessiva
dor, e você esquecerá como se esquece um compromisso sem muita
importância. Uma fruta mordida apodrecendo em silêncio no quarto."

(Caio Fernando Abreu)

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