terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Há hoje um silêncio
que é feito de horizontes.
Minha mente, antes nua,
percebendo preencheu-se
dessa poesia indispensável,
que vive além dos telhados.
Minha alma já sentiu
não haver urgência alguma
para as folhas amarelas
que se desprendem das árvores,
forrando as pedras das ruas.

Adoro esse silêncio...
nele palavras não se vergam,
voam reto em brancas nuvens,...
voltam leves aos meus dedos,
precedidas de altos sonhos.

Ah! Quem dera fosse
também indivisível...
o breve tempo das tardes,
onde todas as frases são versos
nos corpos entrelaçados.

(Rita Costa)
Eu quero uma mulher que seja diferente
De todas que eu já tive e todas tão iguais
Que seja minha amiga, amante e confidente
A cúmplice de tudo que eu fizer a mais
No corpo tem o sol, no coração a lua
A pele cor dos sonhos, as formas de maçãs
A fina transparência, uma elegância pura
O mágico fascínio, o cheiro das manhãs

Eu quero uma mulher de coloridos modos
que morda os lábios sempre que for me abraçar
Que seu falar provoque o silenciar de todos
E o seu silêncio obrigue-me a fazer sonhar
Que saiba receber e saiba ser benvinda
Que possa dar jeitinho em tudo que fizer
E que ao sorrir provoque uma covinha linda
De dia uma menina, a noite uma mulher

(Juca Chaves)
Algumas palavras...
são como flores do campo,
que vivem na intenção dos ventos...
quase nunca sendo vistas.
Às vezes sinto haver
buquês dessas em mim...
há as que escapam nos gestos
e as que anseiam, no silêncio,...
a coreografia dos versos,
sem jamais serem escritas.

(Rita Costa)
Mais-que-perfeita,
tua frase em mim
faz-se explícita
e a recíproca verdadeira
cala em meu peito toda dor.

Mas guardo no silêncio
as palavras que, de súbito,
tornam-se infinitas
para que esperem nosso tempo,...
cada uma, a sua vez
de verterem permissivas
da minha alma,
por minhas veias, meus poros
e em minha boca,…
unindo-se ao teu nome,
que tantas vezes sussurrei.

(Rita Costa)
Quem está aí do outro lado?
Qual a cor do seu perfume?
Quais os sons de seus desejos?
De onde vem o cheiro da sua roupa?
O que seu rosto diz enquanto dorme?
Seus olhos brilham mais se você canta?
E o que você mais sonha acordada?

Que música lhe traz mais alegria?
Qual a maior metáfora da sua vida?
Diante da surpresa, suspira ou gargalha?
Do que você tem medo quando chora?
Você se arrepia se sussurram em seu ouvido?
Onde está a sua mais dócil mania?
E o que você mais diz quando calada?

Para onde você foge ao sentir medo?

Como se acalma quando assusta?
Seus sonhos de criança têm orquestra e realejo?
Ao dançar você aperta seu parceiro?
Onde está o baú com seus segredos?
Como você reage se espera e não vem nada?
Qual fruta traduz melhor seu beijo?

(André L. Soares)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Se não me amas...
não digas a ninguém
Não diga a mim.
Se não me amas
Não diga ao sól...
e nem a lua,
que eles não saibam então.
Se não me amas
não digas ao vento que passa
nem aos pássaros que voam
pelo céu azul...
Que ninguém saiba
que não me amas...
Que eu não tenha certeza
do que já sei.

(Tereza Bólico)
Eram parelhas de cavalos brancos
Eram trigais mais belos que um jardim
Eram punhados de rosas morenas
Cravos em cores, mais de um jasmim

Foi quando a festa começou deveras
E a noite se fez como uma criança
Vestiu de noiva todas as estrelas
E a donzela com a mais bela trança

Ei, que tempo bom
Grandes varandas e madrigais
Cheiro de água de cheiro
A perseguir os casais

Quando a tristeza vem roer o peito
E é chegado a hora de cantar
Pego a viola e quase sem jeito
Solto estas mágoas pra poder chorar

Sinto na vida uma dor secreta
Não há canção que possa consolar
Às vezes penso que canto ciranda
Vou cirandando sem saber cantar

Se o tempo passa
Porque não passa, o lembrar
Cheiro de água de cheiro
Leva a saudade no ar.

(João das Flores)
Convém camuflar
nas profundezas da alma
as palavras mais puras.
Fixar o olhar na areia macia
onde, a todo instante,
a espuma branca faz carícias.

Melhor seja que a brisa
– mistura de sal e maresia –
castigue os lábios em sorriso,
carregando pro mar
o mais leve sussurro,
pairando sobre as ondulações
as palavras proibidas.

Sendo assim,…
que só as aves marinhas
decifrem a poesia que existe
quando minhas lembranças,
façam aflorar dos sentidos
os desejos mais além…
mergulhando-as em sonhos,
no abissal das emoções…
como convém!


(Rita Costa & André L. Soares)
Amado...
Por que tardas tanto?
As primeiras sombras se avizinham
E as estrelas iniciam a noite.
Vem...
Pois a esperança que se acolheu em meu coração
Vai deixá-lo como um ninho abandonado nos penhascos.
Vem... Amado...
desce a tua boca sobre a minha boca
Para a tua alma levar a minha alma
Pesada de sofrimento!

Vem...
Para que, beijando a minha boca
Eu receba a sensação de uma janela aberta.
Amado meu...
Por que tardas tanto?
Vem...
E serás como um ramo de rosas brancas
Pousando no túmulo da minha vida...
Vem amado meu.
Por que tardas tanto?

(Adalgisa Nery)

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Amor, meu grande amor
Não chegue na hora marcada
Assim como as canções
como as paixões
E as palavras...
Me veja nos seus olhos
Na minha cara lavada
Me venha sem saber
Se sou fogo
Ou se sou água...
Amor, meu grande amor
Me chegue assim
Bem de repente
Sem nome ou sobrenome
Sem sentir
O que não sente...
Pois tudo o que ofereço
É, meu calor, meu endereço
A vida do teu filho
Desde o fim, até o começo...
Amor, meu grande amor
Só dure o tempo que mereça
E quando me quiser
Que seja de qualquer maneira...
Enquanto me tiver
Que eu seja
O último e o primeiro
quando eu te encontrar
Meu grande amor
Me reconheça...
Amor, meu grande amor
Que eu seja
O último e o primeiro
E quando eu te encontrar
Meu grande amor
Por favor, me reconheça...
(Barao Vermelho)
penso no amor
e uma lembrança antiga
me traz o seu rosto.
Pela urgência do amor
esquecemos de vivê-lo
damos a ele um tempo
que não pode ser dado:
tempo irrecuperável,
intransferível.
Um coração não
pode ficar para outro dia,
outra hora, outra vida.

(Cáh Morandi)

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Ela está de pé sobre minhas pálpebras
seus cabelos estão nos meus
Ela tem a forma de minhas mãos
Ela tem a cor de meus olhos
Ela é devorada por minha sombra
Como uma pedra contra o céu.
Ela tem sempre os olhos abertos
E não me deixa dormir.
Seus sonhos em plena luz
Fazem evaporar os sóis
Me fazem rir, chorar e rir,
Falar sem ter nada a dizer.

(A enamorada Paul Eluard)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Anda o sol pelas campinas
passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... — mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada.

Porque a vida, a vida, a vida,
vida só é possível
reinventada.

(Cecília Meireles )

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009


A mulher não entra: ela adentra

A mulher não chega: ela aconchega

A mulher não nasce: Ela estréia

A mulher não só canta: Ela encanta

A mulher não só brilha: Ela ilumina

A mulher não fala: Ela pronuncia

A mulher não passa: Ela desfila

A mulher não só trabalha: Ela produz

A mulher não só sonha: Ela realiza

A mulher não só elabora: Ela concretiza

A mulher não só olha: Ela seduz

A mulher não duvida: Ela afirma e prova

A mulher não só cresce: Ela evoluí

A mulher não espera: Ela vai à luta

A mulher não comenta: Ela debate com fundamentos

A mulher não dá rasteiras: Ela derruba com classe

A mulher não é só cheirosa: Ela exala seu cheiro de fêmea.

E Fêmea sabe o que querrrrrrrrrrrrrr!


(Dilean de Bragança)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Se... 

.... fosse aquele beijo, tão somente,
o gesto repentino dum instante,
que, por ser passageiro, não pressente
em si, a eternidade, palpitante

....... fosse aquele beijo, meramente,
a troca do vazio em nós reinante,
no arroubo dum querer inconsistente,
por nada ser – por ser só mais um instante...

Se fosse... Mas não foi – e eu pago caro,
ao contemplar-me em fero desamparo,
perdida num sonhar, que feneceu..

Que fosse assim... Ah! Como eu o quisera,
não mais viver pendente, sempre à espera,
de ter, por outra vez, um beijo teu!.

(Patricia Neme)

domingo, 1 de fevereiro de 2009

O menino do pijama listrado

"Caso você comece
a lê-lo, embarcará em
uma jornada ao lado
de um garoto de nove
anos chamado Bruno
(embora este livro não
seja recomendado
a garotos de nove anos).
E cedo ou tarde chegará
com Bruno a uma cerca.

Cercas como essa
existem no mundo todo.
esperamos que você
nunca se depare com
uma delas.

(John Boyne)
É como se a gente
Não soubesse
Prá que lado foi a vida
Por que tanta solidão?
E não é a dor
Que me entristece
É não ter uma saída
Nem medida na paixão...

Foi!
O amor se foi perdido
Foi tão distraído
Que nem me avisou
Foi!
O amor se foi calado
Tão desesperado
Que me machucou...

É como se a gente
Pressentisse
Tudo que o amor não disse
Diz agora essa aflição
E ficou o cheiro pelo ar
Ficou o medo de ficar
Vazio demais meu coração...

Foi!
O amor se foi perdido
Foi tão distraído
Que nem me avisou
Nem me avisou!
Foi!
O amor se foi calado
Tão desesperado
Que me maltratou...

(Lenine/Dudu Falção)
... Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.
Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo ...
(Cecília Meireles)

É uma índia com colar
A tarde linda que não quer se pôr
Dançam as ilhas sobre o mar
Sua cartilha tem o A de que cor?

O que está acontecendo?
O mundo está ao contrário e ninguém reparou
O que está acontecendo?
Eu estava em paz quando você chegou

E são dois cílios em pleno ar
Atrás do filho vem o pai e o avô
Como um gatilho sem disparar
Você invade mais um lugar
Onde eu não vou

O que você está fazendo?
Milhões de vasos sem nenhuma flor
O que você está fazendo?
Um relicário imenso deste amor

Corre a lua porque longe vai?
Sobe o dia tão vertical
O horizonte anuncia com o seu vitral
Que eu trocaria a eternidade por esta noite

Porque está amanhecendo?
Peço o contrario, ver o sol se por
Porque está amanhecendo?
Se não vou beijar seus lábios quando você se for

Quem nesse mundo faz o que há durar
Pura semente dura: o futuro amor
Eu sou a chuva pra você secar
Pelo zunido das suas asas você me falou

O que você está dizendo?
Milhões de frases sem nenhuma cor, ôôôô...
O que você está dizendo?
Um relicário imenso deste amor

O que você está dizendo?
O que você está fazendo?
Por que que está fazendo assim?...
está fazendo assim?

(Nando Reis)