domingo, 7 de setembro de 2008


A terra não sorri
mas ampara meus passos
de hoje sofrer
me lembro do que é cíclico
os dias de chumbo
a lama do fundo
lamber a lembrança
de pequenos relâmpagos
sofrer sofreguidão
- só isso?
reinventar o mesmo
em tudo o que se ama
lembrar feridas
e perfumes dos momentos
essa minha curta longa vida
involuntária
é assim aos tropeços
e se há esquinas onde
às vezes me firo tanto
é porque é preciso
e se tateia na dor
o despertar da ânsia viva
vislumbre de algum
futuro encanto
o resto é concreto muro
cinza, rachado e duro
que o sonho
não está onde é sonhado
mas onde é pensado
com insistência e arte
esse o rito
içar a dor sombria
e se fazer ao mar
como alguém que ao ficar
finge que parte.

(Cristina Lacerda)

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