terça-feira, 12 de agosto de 2008

Olhar-se ao espelho e dizer-se deslumbrada:
Como sou misteriosa.
Sou tão delicada e forte.
E a curva dos lábios manteve a inocência.
Não há homem ou mulher que por acaso não se tenha olhado
ao espelho e se surpreendido consigo próprio.
Por uma fração de segundo
a gente se vê como a um objeto a ser olhado.
A isto se chama talvez de narcisismo,
mas eu chamaria de alegria de ser.
Alegria de encontrar na figura exterior
os ecos da figura interna:
Ah, então é verdade que eu não me imaginei,
eu existo.

(Clarice Lispector)

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