terça-feira, 5 de agosto de 2008

Conveniência

Convém que o sonho tenha margem de nuvens rápidas
e os pássaros não se expliquem, e os velhos andem pelo sol,
e os amantes chorem, beijando-se, por algum infanticídio.
Convém tudo isso, e muito mais, muito mais...
E por esse motivo aqui vou, como os papéis abertos que caem das
janelas dos sobrados, tontamente...
Depois das ruas, e dos trens,e dos navios, encontrarei casualmente a sala que afinal
buscava, e o meu retrato, na parede, olhará para os olhos que levo.
E encontrarei meu corpo nalguma cama dura e fria.
(Os grilos da infância estarão cantando dentro da erva...)
E eu pensarei: "Que bom! nem é preciso respirar!...

(Cecília Meireles)

Nenhum comentário: